AOS PÉS DE SOFÍA Postado em 09/08/2022 Por Deus See More

AOS PÉS DE SOFIA

A mesma coisa sempre acontece comigo, assim que chega o calor. Começo a andar com os olhos apontados para o chão mais do que de costume: olho para os pés das mulheres, que começam a ficar descobertos depois do confinamento invernal. Observando os membros inferiores femininos, e sem perceber, penso como aquela mulher será intimamente. É como se eu a despisse de baixo para cima, para depois tirar algumas conclusões que nem para mim estão claras. Nunca tenho a impressão de conhecer profundamente uma dama se não puder secretamente estudando seus pés.
E foi isso que me incomodou em Sofía, a nova colega de trabalho que chegou à nossa empresa numa tarde de primavera. Ela era charmosa, loira e dona de um olhar inocente. Não demorou muito para nos darmos bem e, depois de uma semana nos conhecendo, era raro não sairmos juntos para tomar um café ou almoçar depois de cada dia da semana.
Foi um fascínio mútuo. Passamos horas conversando e em menos de quinze dias ele me contou toda a sua juventude. A propósito, eu estava tão confiante, abrindo meu coração como nunca antes. Tudo parecia perfeito, e ele caminhava para um romance feliz ou uma daquelas amizades que raramente se vê entre homens e mulheres. No entanto, havia algo que me incomodava profundamente.

Revelação

Demorei para entender o que era, até que num dia quente de novembro descobri: desde que a conheci, nunca mais tinha visto seus pés.

A essa altura, era normal para mim chafurdar, como todos os anos, na observação inconsciente das extremidades inferiores de todas as mulheres que existiam.

Mas não foi o caso de Sofia. Eu nunca a tinha visto sem botas fechadas, ou sapatos escuros finos, ou com chinelos sofisticados. Mas nunca pés descalços. No começo, eu minimizei esse assunto. Da mesma forma, ele os imaginou de acordo com seu corpo alto. Eles teriam dedos bastante finos, com unhas bem cuidadas e saltos como veludo. Mas a questão não resolvida ainda estava na minha cabeça. O que fazer? Nosso relacionamento estava amadurecendo, e em seus olhos cor de mel eu parecia perceber que ele esperava algo mais de mim do que um bate-papo em um café e uma companhia agradável. Mas era quase impossível para mim pensar em torná-la minha parceira se não revelasse primeiro aquele último mistério: seus pés.
Tudo se precipitou no início de dezembro, quando, depois de tomarmos um café fora do escritório, passeamos um pouco pelo parque.

A conversa corria bem, embora ela estivesse tensa, como se não ousasse me contar algo. Por fim, ela conseguiu ir direto ao ponto: ela me disse que estava apaixonada por mim.

Um fim nos pés

O primeiro impulso que senti foi beijá-la apaixonadamente. Mas algo estava me impedindo. Eu sabia o que era, mas me recusei a aceitar. Por fim, não me contive: com os olhos nublados, agachei-me e, para seu estupor, praticamente arranquei-lhe os sapatos. Ela ficou descalça e envergonhada, olhando para mim sem expressão e involuntariamente exibindo seus membros delicados, que eram exatamente como eu os havia imaginado. Permaneci de joelhos, contemplando suas extremidades inferiores, meus olhos arregalados e minha mente bloqueada. Depois de alguns segundos intermináveis, ela pegou seus sapatos e começou a correr. Eu não a vi novamente.
No dia seguinte, um frio telegrama nos informava que não trabalharia mais conosco. E eu soube que em um telefonema ele disse ao nosso chefe que não queria ter colegas perturbados.
Talvez eu tenha perdido a mulher da minha vida; não sei. Agora faço terapia, e meu analista acredita que o meu não é grave. Mas acho que ele não entende; Sofia também não. Fico olhando os pés femininos como se nada tivesse acontecido.

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